Vida Vegetariana/Vegan: Entrevista Diana Moura

quarta-feira, março 01, 2017

Se bem se lembram, resolvemos começar aqui no blog uma série de entrevistas a pessoas que seguem diferentes tipos de alimentação. Defendemos a bio-individualidade, o que significa que não devemos seguir a dieta do amigo/parceiro/familiar porque não existe uma fórmula que funcione para todos. O que é benéfico para algumas pessoas poderá não ser para outras.

Esta segunda entrevista é sobre as dietas vegetariana e vegan. É um estilo de vida que respeito muito (principalmente depois de ter visto vários documentários e lido vários estudos sobre o assunto) mas que não sigo. As minhas dificuldades passam por não gostar da maior parte dos vegetais e leguminosas. No entanto, estou a tentar comer mais vegetais, adoptar a prática da #segundasemcarne e tento (tento porque em Macau não é fácil) comprar carne orgânica de animais que foram criados ao ar livre.

A Diana segue a dieta vegetariana há 1 ano e está agora em fase de transacção para a dieta vegan. Diz que nunca se sentiu tão bem como agora, dá-nos dicas sobre instragrammers e sites de receitas fáceis e deliciosas e deixa-nos com uma receita de snickers que têm mesmo de fazer (eu já estou com água na boca só de pensar...). Venham ler:





1. Diana que tipo de dieta segues?

Neste momento estou a transitar de uma dieta vegetariana para uma dieta estritamente “vegan” (ou vegana em bom português). No entanto gostaria de reter que o veganismo não é só uma dieta alimentar, é mais do que isso. É um estilo de vida, é uma forma de estar e ser. O termo vegan não se aplica apenas à alimentação, aplica-se igualmente a outras áreas de consumo, como o vestuário, os produtos de cosmética ou de uso doméstico.



2. O que é te levou a seguir essa dieta? 

Desde pequena que me preocupo com questões ambientais e recordo-me bem do conflito interno que sempre senti em relação à exploração dos animais, sobretudo no que respeita à indústria pecuária. Mas, devido à nossa educação e cultura, dissociamos o bem alimentar da sua origem. Há um ano atrás, motivada por conversas com pessoas amigas que estavam a reduzir o consumo de carne, comecei a ler alguns artigos e a informar-me um pouco mais sobre o assunto. Esta pesquisa inicial serviu de catarse para, durante um fim de semana inteiro, ingerir muita informação sobre este tema. Informei-me, eduquei-me e interiorizei uma realidade que até então desconhecia ou ignorava: a minha dieta não está de acordo com aquilo que eu defendo e acredito (a esta pesquisa associei alguns documentários, os quais recomendo como exemplo, “Cowspiracy” e “Vegucated” – disponíveis no Youtube).



Ao longo desta procura, rapidamente percebi que a produção pecuária é uma das principais causas dos problemas ambientais, incluindo o aquecimento global, a degradação do solo, a poluição do ar e da água e perda de biodiversidade. Por exemplo, um grande número de pessoas desconhece que mais de metade da água potável do mundo é destinada à pecuária (produção de carne, leite, ovos, lã, couro, etc.). Simultaneamente, uma em cada cinco pessoas residentes em países em desenvolvimento não tem acesso a água potável. Por outro lado, a expansão do terreno de pasto ocupa uma grande área da superfície terrestre e é responsável pela desflorestação da Amazónia, a qual é o pulmão do nosso planeta. Ironicamente, estes terrenos produzem grandes quantidades de cereais e grãos para consumo animal, não estando antes destinados para colmatar a fome mundial. (Todos estes dados são facilmente acessíveis através da FAO - Food and Agriculture Organization of The United Nations). Face a este breve sumário é claro que há uma desigualdade provocada, quase em exclusividade, pela indústria agro-pecuária. Esta desigualdade consubstancia-se no facto de gastarmos recursos escassos e necessários – como a água e bens alimentares – na indústria agro-pecuária, em vez de os distribuirmos equitativamente pela população mundial. Tudo isto que acabei de elencar – e são meros exemplos porque a lista continua – causou-me confusão, alguma revolta e simplesmente deixou de fazer sentido manter um estilo de vida que até então eu adoptava e fazia parte do meu quotidiano. 


Mudar para uma dieta alimentar vegetariana/vegan foi uma decisão que surgiu de forma muito natural em mim. Para além das questões éticas e filosóficas e da compaixão pelos animais e preocupações ambientais, foi um “despertar” de consciência. Acredito que as escolhas que fazemos são armas poderosas que podem mudar o mundo e acho que as nossas acções devem estar alinhadas com as nossas crenças. E tal como todas as escolhas que fazemos na nossa vida, considero que a comida que comemos deve estar alinhada com o nosso espírito e com aquilo que defendemos. Apesar de os vegans serem considerados fundamentalistas, não me considero como tal. Respeito os outros e as suas decisões, assim como espero que o façam comigo.

3. Qual é a diferença entre uma dieta vegetariana e vegana? 

O veganismo e o vegetarianismo são duas opções alimentares de base vegetal mas que divergem no grau de exclusão dos alimentos de origem animal. No vegetarianismo estão excluídos carne, peixe e todos os produtos que os contenham, mas, dependo do grau de vegetarianismo, podem permitir outros produtos de origem animal, como por exemplo, ovos, lacticínios e mel. Por sua vez, no veganismo estão excluídos todos os alimentos de origem animal, sem excepção, sendo essa exclusão tanto a nível alimentar, como a nível de vestuário e produtos cosméticos e domésticos. Como costumo dizer, um vegan é sempre vegetariano, mas nem todo o vegetariano é vegan! 

4. Quando é que começaste a seguir este estilo de vida? Sentiste alguma diferença? Qual?

Iniciei este estilo de vida há exactamente um ano atrás. Desde então evito ao máximo comprar produtos que tenham sido testados em animais ou que contenham ingredientes de origem animal. 




Não senti grande dificuldade em adoptar e manter este estilo de vida, apesar de ter sido uma mudança radical. O impacto desta mudança na minha vida foi enorme e em vários níveis, sobretudo a nível espiritual e de saúde. O facto de não consumir produtos que sejam resultado da exploração animal, trouxe-me um maior tranquilidade, calma e paz (equilíbrio interior) e tornou-me numa pessoa mais consciente e atenta às necessidades dos outros e ajudou-me a conhecer-me. Em termos de saúde sinto-me sempre com mais energia, durmo melhor, estou mais focada, concentrada e a minha capacidade de memória melhorou, deixei de ter pele seca e tenho o meu sistema imunitário mais fortalecido.

5. Imagina que li tudo sobre a dieta e quero começar. E agora? Por onde começo? Que tipo de alimentos posso comer? 

Uma pessoa que queira começar esta dieta/estilo de vida, é simples, basta retirar da sua alimentação todos os produtos de origem e/ou testados em animais. 



Para quem pretende alterar o seu plano alimentar e seguir uma dieta vegetariana/vegan, há certos alimentos que são imprescindíveis, de forma a evitar carências nutricionais:
  • Grãos integrais, ricos em carbohidratos, vitaminas, minerais e fibras alimentares são indispensáveis na alimentação dos vegetarianos/vegans;
  • Vegetais e Hortaliças garantem níveis de ferro saudáveis ao organismo;
  • Leguminosas são fontes ricas em proteína, ferro e cálcio; 
  • Sementes e oleaginosas devem ser ingeridas frequentemente pois são ricas em proteínas de origem vegetal, fibras alimentares, são antioxidantes naturais e traduzem-se em gorduras saudáveis e altamente nutritivas;
  • Raízes e tubérculos ajudam a compor e a enriquecer a dieta vegetariana/vegan;
  • Frutas (nomeadamente cítricas), claro que um bom vegetariano/vegan que se preze tem de aumentar o consumo de frutas cítricas, ou seja, ricas em vitamina C. 




Credit: @fullyrawkristina

Mas, para além dos alimentos, acima de tudo é necessário: 
  1. Informação (fazer pesquisa contínua);
  2. Estar atento ao corpo (o nosso corpo dá sinais se algo não estiver bem ou se não estiver a adaptar-se devidamente à nova dieta);
  3. Diversão (a dieta vegetariana/vegan não deve ser encarada como uma obrigação, nem deve ser motivada apenas por questões morais ou de saúde, deve ser antes uma escolha interior e consciente, essencial para retirar prazer e diversão da nova mudança).

Uma salada simples e nutritiva: kale, abacate e nozes. 
Tempero só com limão :-)


Hamburger vegetariano. Credit: @veganfoodspot

6. Há alguns cuidados que tenho que ter? Existe algum suplemento que tomes? 

Em tudo aquilo que fazemos, devemos ser responsáveis. Assim, sem fugir à regra, a adopção de uma dieta vegetariana/vegan deve ser feita de forma responsável e atenta e exige certos cuidados de forma a evitar deficiências de ferro e de vitamina B12, de cálcio e proteína, sendo certo que a sua falta pode ocasionar anemia e enfraquecimento do sistema imunitário. Aconselho, a quem tenha interesse em mudar para uma dieta vegetariana/vegan, para o fazer de forma responsável, consciente e garantir que são ingeridas diariamente as proteínas e vitaminas necessárias. Assim é necessário a ingestão de aminoácidos essenciais (leguminosas, cereais e oleaginosas), de cálcio (presente nos vegetais de folha verde-escura como por exemplo brócolos ou kale, nos frutos secos e nas sementes, como sementes de girassol e chia) e claro, ingerir vitamina B12 (que pode ser encontrada em alimentos como a levedura de cerveja e leites vegetais). Em relação a suplementos, julgo que a sua ingestão deve ser feita também de forma consciente e atenta e sem abusar na sua quantidade. Assim, limito-me a tomar diariamente um multivitamínico e vitamina B12 líquida 3 vezes por semana. Ocasionalmente, também faço batidos em que junto sempre um scoop de proteína vegan (facilmente acessível através da internet, v.g. Iherb). Apesar de não ter tido acompanhamento de um nutricionista, porque sempre achei que o meu corpo estava a reagir bem à mudança alimentar, recomendo a quem pretenda alterar para uma dieta de base vegetal que consulte um nutricionista, de forma a garantir o conhecimento e informação necessários e para garantir que a transição é iniciada sem problemas e sem carências nutricionais.

Proteína que costumo usar


7. Tu vives em Macau, é fácil seguir esta dieta? Há algum restaurante que recomendes? 

A base de uma alimentação vegan são os cereais, hortaliças, frutas e leguminosas, pelo que, em termos de alimentação-base é fácil encontrar os produtos nos supermercados e nos mercados tradicionais de Macau.



Apesar de Macau não ter muitas ofertas, na verdade não senti grandes dificuldades em adoptar e manter este estilo de vida, até porque outros produtos tais como os de cosmética e domésticos, é fácil encontrá-los através da internet (vg. Iherb ou veganstore.co.uk) e há cada vez mais marcas que se especializam na produção de artigos sem ingredientes de origem animal e sem recurso aos habituais testes em animais. Alternativamente, recorro a lojas especializadas em produtos vegan e que, apesar de não existirem em Macau, existem em Hong Kong. Em relação a restaurantes, já começa a haver mais opcões, as quais recomendo, como por exemplo o The Blissful Carrot (Taipa Velha), o Veggie Macau (perto do Tap Seac), The Golden Peacock (no Venetian) e o Chackra Space (na Calçada da Barra), os quais oferecem deliciosas refeições de base vegetal. E, cada vez mais, os restaurantes em Macau, ainda que não sejam restaurantes vegetarianos, têm menus vegetarianos disponíveis a pedido do cliente. 

8. Quais os livros, blogs ou sites que recomendas sobre este estilo de vida?

Confesso que poucos livros li sobre o assunto mas sigo alguns blogs/sites que foram e continuam a ser fonte de inspiração:
  • One Green Planet,  o qual pugna por ser um site activista e de defesa dos direitos dos animais, mas também se traduz num site informativo, onde são publicadas várias notícias relacionadas com o veganismo e ainda disponibiliza inúmeras receitas deliciosas.
  • Loving It Vegan, dirigido por vegan foodies lovers os quais criam e recriam várias receitas adaptadas a uma alimentação vegan.
  • O inspirador Minimalist Baker traduz-se num website dedicado a receitas vegan simples e rápidas!
  • O blog Hot for Food apresenta uma enorme variedade de receitas simples e ideias chave para dar asas à nossa imaginação! 
  • O blog Detoxinista, óptimo para procurar receitas simples e saudáveis e dicas sobre detox, seguindo uma alimentação saudável.
  • Site e blog The Vegan Society é essencialmente um website informativo e que se foca na defesa dos animais e nos meios de combate à crueldade animal, e também tem disponíveis várias receitas vegan! 
  • E claro, a página da internet da PETA, onde se encontram todas as informações sobre a defesa dos animais e sobre o veganismo, publica notícias diárias, receitas, vídeos, entrevistas, etc. 

9. Segues alguém no instragram, facebook ou snapchat que seja vegetariano ou vegano?

Sigo bastantes páginas no instagram, as quais foram e são fontes de inspiração e que me proporcionaram muitas informações sobre estes temas. São sobretudo páginas sobre o movimento vegan (alguns um pouco fundamentalistas mas bastante úteis em termos de disseminação de informação). São elas por exemplo:

E sigo pessoas, desde vegan health trainers a vegan foodie lovers, os quais para além de demonstrarem que ser vegan não é sinónimo de fraqueza, ainda partilham imensas receitas fantásticas:

Credit: @elavegan


10. Podes deixar aqui uma receita vegetariana deliciosa? 

Se adoram chocolates, tal como eu, então esta receita é ideal: snickers vegan. É fácil e fica igual aos snickers que encontramos nos supermercados...mas com a vantagem de ser saudável e sem produtos animais! Eu fiz e adorei! 

Credit: Blog Detoxinista


Ingredientes para o Caramelo:
  • 8 tâmaras; 
  • ¼ de chávena de chá de leite de amêndoa;
  • 1 colher de sopa de manteiga de amendoim; 
  • ¾ de chávena de chá de amendoins salgados. 

Ingredientes para o Recheio: 
  • ½ chávena de chá de manteiga de amendoim;
  • 3 colheres de sopa de farinha de coco;
  • 4 colheres de chá de maple syrup ou golden syrup; 

Ingredientes para a Cobertura:
  • 150 gramas de chocolate 100% negro 

Como fazer:
  1. Para o caramelo basta juntar as tâmaras, o leite de amêndoa e a manteiga de amendoim no liquidificador até ficar uma mistura parcialmente homogénea. De seguida, juntar os amendoins salgados e envolver.
  2. Para o recheio, juntar a farinha, o maple syrup e a restante manteiga de amendoim numa tigela pequena e misturar até ganhar consistência.
  3. Forrar uma forma rectangular com papel vegetal e verter a mistura de caramelo para o interior da mesma (com a ajuda de uma espátula garantir que fica nivelado). De seguida, sobre a mistura de caramelo verte-se o recheio e deve ficar no mínimo 2 horas no frigorífico.
  4. Retirar do frigorífico e desenformar o preparado. 
  5. Cortar o preparado em várias barras.
  6. Numa panela adicionar o chocolate partido em pedaços e um pouco de água e levar a lume médio em banho-maria. 
  7. Quando o chocolate derreter, cobrir as barras com o mesmo. 
  8. Dica: levar novamente ao frigorífico antes de servir.

***

São vegetarianos/vegans? Têm outras receitas para partilhar connosco? Identificam-se com este estilo de vida mas ainda não o seguem? Porquê? Quais são as vossas dúvidas ou receios?

Se seguem outro tipo de dieta (macrobiótica, funcional, reeducação alimentar, Atkins, Dunkan, etc) e gostavam de ser entrevistados para o blog mandem-nos um email :-)

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3 comentários

  1. Vai Didicas!!! Não se esqueçam do Hard Rock e do Mc Sorleys, que também opções vegetarianas! E onde há alface há solução, portanto quase todos os restaurantes têm uma saladinha!

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  2. Gostei bastante da entrevista e admiro imenso quem faz essa transição!
    with love, KATE 🖤

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  3. É um estilo de vida que admiro e já pensei em adotar. Por agora vou fazendo algumas refeições vegan (a maior parte dos meus almoços tem sido sem produtos animais), mas ainda estou longe de abolir tudo!
    Gostei do testemunho, muito interessante e cheio de informação importante. :)

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