Sevilha... TOP10!

quinta-feira, março 30, 2017


Comecemos por um pouco de história e geografia: Sevilha é a capital da Andaluzia, sendo a quarta cidade espanhola em número de habitantes e terceira mais visitada por turistas estrangeiros (primeiro está Madrid e Barcelona… mas Sevilha é mais bonita!). É atravessada pelo rio Guadalquivir e foi um dos mais importantes portos do mundo durante o séc XVI e o centro económico do Império Espanhol onde afluíam todos os tesouros das Américas.

 Acabada a introdução, vamos então directos ao TOP 10:

1. Catedral 

Básico e essencial. Se só estiverem uma hora em Sevilha têm de entrar na catedral e subir à Giralda. É a maior catedral gótica do mundo, construída entre os séculos XV e XVI sobre a antiga mesquita da cidade, cujos restos ainda se conservam no Patio de los Naranjos (Pátio das Laranjeiras) e na Giralda (antigo minarete, hoje campanário). Em 1987 foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO.
Em Agosto não está tempo para passeios de coche! 

Alguns detalhes interessantes:
- Os dois terços inferiores da torre correspondem ao minarete da antiga mesquita da cidade, de finais do século XII. Por isso tem 34 rampas suficientemente largas para permitir que o almuadem subisse a cavalo para convocar a população à oração.
- A parte superior da torre só foi construída no século XVI como campanário e está coroada com uma estátua conhecida por “El Giraldillo”, que é no fundo um enorme catavento – o seu nome original é “Triunfo da fé cristã sobre o mundo muçulmano”. No total, é mais alta que o Big Ben!
- No interior da catedral está o túmulo de Cristóvão Colombo. Será que é mesmo espanhol?

A Giralda, a Catedral e o Patio de los Naranjos.

2. Real Alcázar

É um grande palácio fortificado, constituído por edificações de diferentes etapas históricas, desde vestígios islâmicos dos seus primeiros moradores, passando pela espectacular arquitectura mudéjar e gótica do período pós-reconquista cristã, até às partes renascentistas e barrocas de reformas posteriores. É o palácio mais antigo da Europa, já que hoje continua a alojar membros da Casa Real Espanhola quando estes visitam Sevilha. Os seus enormes jardins são os mais antigos da cidade. Tal como a Catedral, foi declarado Património da Humanidade pela UNESCO em 1987.
Detalhe de uma janela mudéjar, e reflexo do Giraldillo.

Dicas que não vêm nos livros:
- Para esta visita convém reservar bastante tempo, já que os vários palácios e os enormes jardins têm muito para ver. Aconselho o audio-guia, que embora um pouco caro, contem informação interessante sobre todos os espaços a visitar (sou arquitecta, gosto muito destas coisas!).
- No verão há diariamente concertos de música ao ar livre nos jardins, à noite. Os bilhetes não são caros e podem comprar-se na porta ou pela internet (http://www.actidea.es/nochesalcazar2016/). Uma experiência única que permite visitar os jardins à noite.
- Viciados na serie Guerra dos Tronos: preparem-se para entrar em Dorne!
Eu estive em Dorne :)

3. Archivo de Indias 

Criado em 1785 pelo rei D. Carlos III com o objectivo de centralizar, num único lugar, toda a documentação referente às colónias espanholas.É, até aos dias de hoje, o maior arquivo de documentação relativa ao domínio espanhol da América Latina e Filipinas. É aqui que está guardada a cópia espanhola do Tratado de Tordesilhas!
Este edifício é o terceiro deste grupo monumental a ser declarado Património da Humanidade pela UNESCO em 1987.
A entrada de aspecto solene.

Alguns detalhes interessantes: 
- Apesar de tudo, o edifício não foi construído para ser um arquivo. Acho esta história bastante engraçada… Durante o período em que a cidade era a porta para a América, estava cheia de mercadores que, à falta de melhor sitio, faziam os seus negócios nas escadarias da Catedral (e no seu interior, nos dias de chuva). Na segunda metade do século XVI o Conselho da Catedral proibiu esta situação e os mercadores fizeram queixa ao rei Filipe II (primeiro de Portugal). Conclusão: em 1584 construiu-se um edifício novo, em frente da Catedral, para os negócios.
- Os 3 edifícios declarados Património da Humanidade representavam os 3 poderes que governavam a cidade: religioso, político e económico.
Ao fundo, a Catedral. E nas costas, o Alcázar. 

Dicas que não vêm nos livros:
- As exposições no interior vão mudando e por vezes é possível ver Tratado de Tordesilhas original.
- A exposição permanente não tem muito interesse para quem vai estar pouco tempo em Sevilha, já que é bastante extensa e exaustiva. Mas, como a entrada é gratuita, podem entrar só para ver o edifício. Antes de iniciar a visitar podem aceder um curto e interessante vídeo sobre a história da cidade.

4. Parque María Luisa e Plaza de España 

O Parque Maria Luísa é o jardim público mais famoso da cidade. Inicialmente pertencia aos jardins privados do Palácio de San Telmo, mas o espaço foi cedido para integrar os terrenos da grande Exposição Ibero-Americana de 1929, celebrada em Sevilha.
As obras realizadas para a Exposição têm um elevado interesse arquitectónico e paisagístico e, muitos dos pavilhões de então ainda se podem ver no interior do parque e nos arredores do mesmo. Os mais interessantes e maiores são os que se encontram na Praça da América, na zona sul do Parque: Pavilhão das Belas Artes (actualmente Museu Arqueológico) e Pavilhão Mudéjar (actual Museu das Artes e Costumes).
Outras das grandes obras realizadas para esta Exposição foi a Praça de Espanha. É um grande espaço aberto, rodeada de um edifício semicircular estilo regionalista, que simboliza o abraço de Espanha às suas antigas colónias. De referir que, nos bancos ao longo de toda a fachada, aparecem representadas todas as províncias espanholas.
Pavilhão Mudéjar entre jardins.

Alguns detalhes interessantes: 
- Alerta Cinéfilos: A Praça de Espanha foi utilizada como cenário em tantos filmes que a Academia de Cinema Europeu a elegeu como Tesouro da Cultura Cinematográfica Europeia. Exemplos: Lawrence de Arábia (1962) e Star Wars Episode II (2002).
Plaza de España... Podería ser o Cairo ou Naboo.


Dicas que não vêm nos livros:
- Se visitarem Sevilha no verão, é melhor começar pela Praça de Espanha, bem cedinho. O facto de estar voltada a poente e praticamente não ter sombra a partir do meio-dia torna-a um verdadeiro martírio.
- Para ver os jardins de forma rápida e divertida, podem alugar uns “carrinhos-bicicleta” para duas ou quatro pessoas! - Os museus poderão, caso tenham pouco tempo, ficar para outra oportunidade. Há outros espaços com exposições mais interessantes na cidade.

5. Bairro de Santa Cruz

O antigo bairro judeu medieval é um dos mais emblemáticos da cidade. As ruas estreitas e sinuosas, com as típicas casas pátio sevilhanas e varandas de ferro com flores aparecem em postais! Percam-se nas ruas (mesmo que não queiram, vão acabar por se perder mesmo) e descubram os encantos da cidade antiga.
Calle Vida.

Dicas que não vêm nos livros:
- Espreitem os pátios e entrem nas igrejas que nem sempre estão abertos. Aproveitem a oportunidade!
- Se tiverem tempo, podem visitar o Hospital de los Venerables Sacerdotes. A capela é uma obra barroca espectacular.
Ruas labirinticas desembocam, de repente, em praças.

6. Plaza de la Encarnación / Metropol Parasol

No verão em que cheguei a Sevilha (2005) começaram as obras na Plaza de la Encarnación, e só terminaram em 2013. Um projecto muito polémico na cidade, devido à duração da obra, ao dinheiro gasto e à solução arquitectónica escolhida, acabou por se tornar um ícone da Sevilha moderna. Pela sua forma peculiar, é localmente conhecido como Las Setas (os cogumelos).
Trata-se de uma gigantesca estrutura de madeira, a maior do mundo neste material, com um miradouro enorme na parte superior a 26m de altura. Na parte inferior está o Antiquarium, onde se podem visitar os restos arqueológicos da época romana que se encontraram durante as obras. Las Setas não deixam ninguém indiferente. Amor ou ódio? A mim hoje não me apetece entrar em polémicas! :)
Estructuras de madeira que parecem brinquedos.

Dicas que não vêm nos livros:
- A melhor altura para subir é o pôr do sol. Se não conseguirem chegar a tempo, podem também subir à noite: está aberto até tarde e, se já viram Sevilha de dia da Giralda, vejam-na de noite desde aqui!
- Os arredores da Praça são frequentados essencialmente por sevilhanos. Há bares, restaurantes, lojas sempre cheios a qualquer hora do dia. Voltarei a este tema num outro post, já que é das minhas áreas preferidas da cidade.
Sevilha vista de cima, o horizonte marcado pela Giralda.

7. Basílica de La Macarena
La Macarena é a Virgem mais venerada em Sevilha. Em 1966 o Papa Paulo VI concedeu à sua igreja o título de Basílica Menor e, apesar do seu pequeno tamanho, é hoje conhecida como Basílica de Santa María de la Esperanza Macarena. No interior pode ver-se a imagem talhada do séc. XVII, que sai em procissão durante a Semana Santa.
Em 2009 a Irmandade da Macarena abriu um museu onde expõe todo o espólio referente à Semana Santa. Na minha opinião é bastante interessante, e dá uma ideia de como vive a cidade essa semana (obviamente, o melhor é vir nessa altura, mas se não puderem... Já ficam com uma ideia de como é!).
Detalhe do Arco da Macarena.

Alguns detalhes interessantes:
- Em frente da Basílica encontra-se o Arco de La Macarena. Uma das portas de entrada da muralha, a que se situava mais a norte da cidade. Alias, aqui podem ver um dos poucos restos da antiga muralha, incluindo alguns torreões.
- Do outro lado da rua, encontra-se o Hospital de las Cinco Llagas, actualmente sede do Parlamento da Andaluzia. É um edifício renascentista com uma fachada monumental. É complicado conseguir visitar o interior dado tratar-se de um organismo público.
Fachada poente do Parlamento da Andaluzia.

8. Iglesia del Divino Salvador.

Em Sevilha o que não faltam são igrejas, e poderia recomendar muitas mais. No entanto, o Salvador destaca-se por duas razões: por um lado o esplêndido interior, não só ao nível da arquitectura mas também dos espectaculares retábulos barrocos, e por outro lado pelo facto de ter acabado de ser restaurada.
Plaza del Salvador vazia, por enquanto! 

Dicas que não vêm nos livros:
- A Plaza del Salvador é um dos pontos de encontro dos sevilhanos ao final da tarde e aos fins-de-semana. É o sítio ideal para tomar uma cerveza ou um tinto con limón, o espelho da verdadeira alma da cidade.

9. Bairro de Triana

Há t-shirt que dizem “Republica Independiente de Triana” e muitos trianeiros orgulhosos não se consideram sevilhanos. Brincadeiras à parte, o bairro de Triana, separado da cidade pelo Rio Guadalquivir é efectivamente diferente – tem arte! Aqui nasceram numerosos artistas do mundo taurino e do flamenco, pintores, escultores e ceramistas.
Um museu bastante interessante é o Museu da Cerâmica, que mostra a relação directa do bairro com esta arte. Recomendo a visita!
Puente de Triana, a primeira a unir as duas margens.

Alguns detalhes interessantes:
- Há demasiados, terei de dedicar um post inteiro a Triana! Acho que dá para ver de que lado do rio é que vivo ;)
Museu da Cerâmica. Detalhes arquitectónicos.

10. La Cartuja

La Cartuja é uma área bastante extensa, os terrenos onde em 1992 esteve a Exposición Universal de Sevilla. Sim, há Pavilhões e jardins dessa época mas considero que o verdadeiro interesse de zona está no Monesterio Santa María de las Cuevas, conhecido como Monesterio de la Cartuja.
Foi um importante mosteiro da Ordem dos Cartuxos, entre finais séc XV e princípios do séc. XIX. Em 1810, durante as invasões francesas, as tropas napoleónicas expulsarem os monges e utilizaram o edifício como quartel, deixando-o abandonado e destruído. Trinta anos mais tarde, o inglês Charles Pickman, compra o mosteiro e transforma-o em fábrica de cerâmica, construindo as enormes chaminés que marcam a sua estética até hoje. Agora é o Museo de Arte Contemporáneo de Andalucía.
Religião... Indústria... Arte.


Dicas que não vêm nos livros:
- Por vezes tem exposições muito interessantes, mas mesmo que assim não seja, o espaço vale só por si.
- Organizam-se vários eventos ao longo do ano: normalmente há jam sessions de jazz grátis aos domingos à tarde, e festivais de música nocturnos durante os meses de verão.
"Alicia" , obra de Cristina Lucas. 


Há muito mais para dizer sobre a cidade e reduzir tudo a um Top 10 foi complicado. Por exemplo, não se falou aqui de tapas. As tapas merecem um post só para elas… Ficam para os próximos episódios!


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2 comentários

  1. Adorei ter estado em Sevilha e não me importava nada de voltar, especialmente agora que vi o Game of Thrones. Acho que também não sabia esse pormenor da Praça de Espanha ter sido usada como cenário em vários filmes!

    Pessoalmente, gosto da estrutura de Las Setas mas não acho que se enquadra nesse tipo de cidade.

    Ansiosa pelo post das Tapas :-)

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    Respostas

    1. O post das tapas chegará a seu tempo!

      As Setas foram muito, mas mesmo muito criticada na cidade. Por um lado estavam os defensores de que a cidade deveria modernizar-se e por outro os mais tradicionais que eram absolutamente contra construir um elemento moderno no centro. Um das fotos mais famosas do período pos inauguração foram os Passos da Semana Santa - o mais tradicional da cidade - a passarem por baixo da moderna estrutura.

      Pessoalmente acho que são demasiado grandes para o tamanho da praça mas, com o passar do tempo, penso que a cidade as assimilou bem. Passou a ser mais um "monumento" que já pertence a esse sitio. Poderia haver soluções melhores? Certamente... mas isso pode ser dito sobre tudo o que se constrói.

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